A EMT e seus benefícios no tratamento para depressão na gravidez
Muitas são as dúvidas no que se diz respeito à saúde mental das mulheres em período de gestação e
puerpério. Pode parecer “contraditório”, porém, muitas pacientes segundo Camacho, Cantinelli, Ribeiro et al (2006) apresentam tristeza ou ansiedade em vez de alegria nessas fases de suas vidas. Outros exemplos que são citados é o sentimento de culpa por parte das pacientes, o que interfere na aderência ao tratamento e a aceitação de uma patologia em uma fase que, em tese, deveria ser de alegria.
Nos últimos anos, vários são os estudos que têm investigado sobre o tema, buscando responder perguntas técnicas como: os transtornos puerperais poderiam ser uma manifestação de um transtorno prévio não adequadamente tratado? Seriam a gestação ou o puerpério fatores protetores ou de risco para o desencadeamento de transtornos psiquiátricos? As alterações hormonais que ocorrem nesse período poderiam estar envolvidas na sua etiologia? Quais seriam os principais fatores de risco? Em quais situações seria adequado usar psicofármacos como medida de tratamento?
"Apesar de parecer distante a mensuração de um padrão de tratamento ou a concepção de um possível “mal-estar” com a chegada da maternidade, estima-se uma prevalência de depressão na gravidez da ordem de 7,4% no primeiro, 12,8% no segundo e 12% no terceiro trimestre (bennett el al., 2004)."
Para o público adolescente, foi averiguado uma prevalência entre 16% e 44% (quase duas vezes mais elevada que nas gestantes adultas), o que segundo Szigethy e Ruiz (2001) pode estar relacionado à falta de maturidade afetiva e de relacionamentos, bem como uma boa parte delas terem que abandonar seus estudos em razão da maternidade.
Na pesquisa desenvolvida os principais fatores de risco psicossociais relacionados à depressão maior no
puerpério são: personalidade vulnerável (mulheres pouco responsáveis ou organizadas), esperar um bebê do sexo oposto ao desejado, apresentar poucas relações afetivas satisfatórias e suporte emocional deficiente (boyce e hickey, 2005). Abortamentos espontâneos ou de repetição também foram indicados como fatores de risco (Botega, 2006).
Distante de formular um padrão de comportamento e motivos, pelos quais, no período de gestação ou pós-parto as mulheres desenvolvem problemas psicológicos, é a possibilidade de contemplar que tais problemas existem e são passíveis de tratamento.

Em 2015, na reunião da
Society of Biological Psychiatry, a pesquisadora Deborah Kim apresentou uma palestra sobre o uso da Estimulação Magnética Transcraniana repetida (EMTr) para mulheres grávidas que estavam com depressão. No tratamento com EMTr, uma bobina eletromagnética é colocada contra o lado da testa e pulsos magnéticos que conseguem penetrar pelo couro cabeludo são convertidos em pequenas correntes elétricas que estimulam os neurônios no cérebro (TMS BRASIL, 2017).
A pesquisadora concluiu, em seu estudo aberto sobre EMTr em mulheres grávidas, que 70% das mulheres responderam ao tratamento. Em outro estudo de Deborah Kim, onde foram controladas 30 mulheres, 75% responderam a EMTr ativa e 50% responderam a um procedimento simulado (falso). Importante destacar que
nenhuma das mulheres incluídas teve problemas com o feto ou durante o parto.
Podemos observar que a EMTr oferece uma alternativa às mulheres que estão relutantes em tomar antidepressivos durante a gravidez. A conscientização e a informação se tornam primordiais para termos conhecimento sobre tratamentos alternativos, de qualidade e funcionais para com os problemas apresentados neste artigo.
A discussão serve para construirmos uma ponte de acesso e desenhar caminhos que contemplem a saúde mental da população em geral. O Hospital San Julian torna-se pioneiro no uso da EMT entre seus procedimentos de tratamento dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), dessa forma, consumindo recursos próprios em benefício de seus pacientes assistidos.