Será que temos controle sobre o Envelhecimento?
Os adultos mais velhos podem deter o controle sobre o envelhecimento, dizem especialistas. Os psicólogos estão lidando com estereótipos negativos sobre o envelhecimento e ajudando adultos mais velhos a adotar atitudes e comportamentos saudáveis.
Para muitas pessoas, envelhecer é gratificante - os adultos tendem a experimentar mais bem-estar, satisfação com a vida e estabilidade emocional à medida que envelhecem - e um crescente número de pesquisas mostra que um estilo de vida saudável pode desacelerar e até reverter o declínio cognitivo e físico. Mas a maioria das pessoas ainda têm opiniões negativas sobre o envelhecimento.
O psicólogo Manfred Diehl, PhD, diretor do Projeto de Desenvolvimento e Envelhecimento de Adultos da Universidade Estadual do Colorado acredita que “o envelhecimento é um processo muito mais plástico”, isso significa que os adultos de meia-idade e mais velhos têm um maior controle sobre a maneira como envelhecem do que até então se acredita.
Junto com seus co-autores, os psicólogos Chandra Mehrotra, PhD, do College of St. Scholastica em Minnesota, e Michael Smyer, PhD, da Bucknell University em Lewisburg, Pensilvânia, Diehl, M.,
et al (2020) desenvolve o pensamento de que a narrativa ajuda os adultos a abraçar o poder que eles têm sobre seu próprio envelhecimento. Segundo o autor, isso não apenas irá melhorar a vida das pessoas, mas também pode beneficiar a sociedade por meio da redução dos custos com saúde e do aumento da produtividade (caso os adultos permaneçam saudáveis por mais tempo).
Estereótipos negativos
“Devemos mudar a forma como pensamos e falamos sobre envelhecer”
O preconceito de idade no nível social pode levar à discriminação aberta, como por exemplo, em práticas tendenciosas de contratação e demissão. No nível individual, os estereótipos negativos sobre envelhecimento têm a possibilidade de impedir as pessoas de se envolverem em comportamentos preventivos de saúde, o que pode, em última instância, diminuir a expectativa de vida. Um dos equívocos mais difundidos sobre o envelhecimento associa o fato de envelhecer com “perda” ou “declínio”. A pesquisa sugere que para a maioria das habilidades mentais, o declínio estatisticamente confiável relacionado à idade não ocorre antes dos 60 anos, e a maioria dos adultos não experimenta declínios visíveis de habilidade até o final dos anos 60 ou início dos 70 (Schaie, KW, Developmental Influences on Adult Intelligence : The Seattle Longitudinal Study, 2ª ed., Oxford University Press, 2013). Além disso, o bem-estar emocional e a satisfação com a vida tendem a melhorar à medida que envelhecemos.
Estudos mostram que fatores de estilo de vida - incluindo uso de álcool e tabaco, atividade física e envolvimento cognitivo - podem ser responsáveis por até 70% da variação na memória relacionada à idade e mudanças cognitivas (Tucker-Drob, EM, & Briley, DA, Psicológico Bulletin, Vol. 140, No. 4, 2014).
Outro problema com a maneira como vemos o envelhecimento - amplificada pela pandemia
COVID-19 - é a tendência de descrever os adultos mais velhos como um único grupo homogêneo: neste caso, um grupo que é altamente suscetível a doenças e morte. Segundo Diehl (2020), “os adultos mais velhos são, na verdade, a faixa etária mais diversa, mas muitas vezes são vistos como unilateralmente frágeis, vulneráveis ou mesmo dispensáveis. O autor afirma que a crise do COVID-19 só reforçou ainda mais os estereótipos existentes.
A
Gerontological Society of America´s Reframing Aging Initiative, conduz pesquisas sobre envelhecimento saudável e oferece recursos para informar e envolver profissionais que trabalham com adultos mais velhos. Outros caminhos para a mudança incluem abordar retratos da média etária de adultos mais velhos, que muitas vezes retratam o grupo como um fardo para a sociedade (Lockenhoff, C.E., et al., Psychology and Aging, vol.24, No. 4, 2009). Vivemos em uma realidade em que muitos adultos mais velhos são trabalhadores produtivos, cuidadores frequentes de netos e filhos adultos com deficiência e voluntários ativos em suas comunidades.
Como sugestão, os autores colocam que direcionar mensagens para adultos de meia-idade, encorajando-os a aumentar comportamentos preventivos de saúde à medida que envelhecem e desenvolver programas de saúde e bem-estar no local de trabalho que ajudem a disseminar informações sobre envelhecimento saudável, podem ser ações que promovem a conscientização e consequentemente a ajuda necessária.
O papel dos Psicólogos
Os psicólogos já desempenham um papel fundamental em desmistificar os conceitos errôneos sobre o envelhecimento, estudando a plasticidade comportamental e neural, o desenvolvimento sócio emocional ao longo da vida e os efeitos negativos do envelhecimento. Foi desenvolvido também teorias e técnicas de mudança de comportamento, como a autorregulação, que podem ser aplicadas para ajudar a otimizar o envelhecimento. Nesse sentido, os autores de “Otimizando o Envelhecimento” desenvolvem um trabalho de incentivar os psicólogos a assumir um papel cada vez mais ativo na divulgação dessas descobertas e estratégias ao público.
“Além de publicar artigos de pesquisa, devemos avançar na questão de aproximar o trabalho desenvolvido para o entendimento da comunidade”, diz Mehrotra.
O maior desafio dos pesquisadores é convencer o público de que eles têm mais controle sobre seu próprio comportamento e envelhecimento do que imaginam.
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autor: Luiz Prendin é comunicólogo e representante do CMDCA pelo Hospital San Julian.