Quais os Efeitos da Música no Cérebro?
O Hospital San Julian foi instituído junto da reforma psiquiátrica, sendo um processo complexo que envolve a mudança na assistência de acordo com os novos pressupostos técnicos e éticos, a incorporação cultural desses valores e a convalidação jurídico-legal desta nova ordem. Nesse escopo, a equipe multidisciplinar composta por médicos psiquiatras e clínicos, psicólogos, serviço social, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, farmacêuticos, musicoterapeutas, nutricionistas e equipe de enfermagem torna-se essencial para promover um atendimento humano e consciente.
A partir da promulgação da lei n° 10.216 no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, garantiu ao Brasil a entrada para o grupo de países com uma legislação moderna e coerente com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e seu Escritório Regional para as Américas, a OPAS. A lei direciona a assistência psiquiátrica para uma gama de direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e regulamenta as internações involuntárias sob supervisão do Ministério Público (órgão do Estado guardião dos direitos indisponíveis de todos os cidadãos brasileiros).
"Tendo em vista a estrutura multidisciplinar no atendimento aos pacientes e a defesa por lei dos direitos do cidadão a um acompanhamento de qualidade que promova a saúde mental, voltemos à composição profissional de assistência. Dentre os profissionais mencionados, dispomos dos musicoterapeutas."
A musicoterapia está integrada ao grupo de terapias criativas, juntamente com a dança-terapia, arte-terapia, poesia-terapia e psicodrama (não é uma terapia alternativa). Segundo Poch (1982) a musicoterapia pode ser definida como a aplicação científica da arte da música e dança para fins terapêuticos, garantindo a prevenção, restauração e melhora na saúde física, mental e psíquica do ser humano através da ação do musicoterapeuta. Ao mencionar “arte da música”, estamos falando sobre o fato de que apenas a música que é arte pode realmente ajudar o ser humano, pelo seu significado profundo. Este significado profundo é dado não pelo conteúdo intelectual, mas pelo conteúdo emocional (o que realmente cura é a emoção que sugere ou pode sugerir a obra de arte). Nesse sentido, um trabalho realizado pelo computador, nunca pode ser arte e, portanto, não terapêutico.
Com a musicoterapia estamos diante de um processo sistemático que envolve empatia, intimidade, comunicação, interação, influência recíproca (entre terapeuta e paciente) e relacionamento como um papel terapêutico. Sendo um processo, ele é dirigido para um fim, no que o terapeuta ajuda o cliente a aumentar, manter ou restaurar um estado de bem-estar através de experiências musicais e as relações que se desenvolvem respectivamente como forças dinâmicas de mudança. Sabendo dessa estrutura terapêutica,
você sabe o que acontece no cérebro quando as pessoas fazem música juntas?
Uma equipe de neurocientistas sociais da
Bar-llan University e da
University of Chigaco (2021) apresentou um modelo do cérebro que lança luz sobre as funções sociais e os mecanismos cerebrais que fundamentam as adaptações musicais usadas para a conexão humana. O modelo é único, pois se concentra no que acontece no cérebro quando as pessoas fazem músicas juntas, ao invés de quando ouvem música individualmente. A pesquisa teve como inspiração esforços criativos de pessoas ao redor do mundo para reproduzir a produção musical em conjunto durante o distanciamento social da pandemia. Isso inclui pessoas cantando canções em uníssono em varanda, cantando em grupo em plataformas de videoconferência, como Zoom, e shows ao vivo em salas de estar como Yo Yo Ma, Chris Martin do Coldplay e Norah Jones.
A equipe juntou os últimos avanços na neurociência social e no campo da música, incluindo a teoria da evolução. Eles sintetizaram esses avanços e destacaram cinco funções e mecanismos principais do cérebro que contribuem para a conexão social por meio da música: (1) circuito de empatia, (2) secreção de oxitocina, (3) recompensa e motivação, incluindo liberação de dopamina, (4) estruturas de linguagem e (5) cortisol.
A
empatia nos ajuda a sintonizar como as outras pessoas estão pensando e sentindo, e pode ser melhorada por meio da coordenação musical interpessoal. A
oxitocina é às vezes chamada de “hormônio do amor” porque contribui para a sensação de sentirmo-nos socialmente ligados aos outros. É secretado quando as pessoas cantam juntas, mesmo quando o canto é improvisado. A
dopamina é um neurotransmissor que produz uma sensação de prazer e é liberado durante a antecipação e expectativa musical, e é fundamental para nosso senso de recompensa e motivação. As
estruturas da linguagem no cérebro estão envolvidas no diálogo musical de vaivém (às vezes referido como “chamada” e “resposta”). O
cortisol é um hormônio que contribui para o estresse, mas diminui no cérebro quando as pessoas cantam juntas e quando ouvem música juntas em grupos.
A pesquisa fornece a base para um campo emergente chamado “neurociência social da música”, que se baseia na neurociência cognitiva da música previamente estabelecida (principalmente na audição de música). Com isso, conseguimos compreender a importância do profissional de musicoterapia no tratamento multidisciplinar para os pacientes que buscam uma saúde mental.
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O Hospital San Julian é uma instituição especializada no tratamento de dependentes químicos e portadores de transtornos mentais nas fases mais críticas e agudas de suas doenças. Desempenha suas atividades integradas com o Sistema Único de Saúde (SUS), em consonância com o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e promove a construção da causa da saúde mental para todos.
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