Os benefícios da tecnologia para as Organizações da Saúde
É inegável o papel dos avanços tecnológicos para o fortalecimento da saúde. No que concerne às tecnologias digitais, trata-se do uso crescente dos sistemas de informação e análise de dados em saúde nas ações de preparo, vigilância e resposta diante os desafios que contemplam tais organizações. No estudo realizado por Valentim, Lima, Cortez
et al (2020) fica evidente o pressuposto de que é possível potencializar a gestão da resposta à
Covid-19 por meio da saúde digital. Assim, a pesquisa desenvolveu um Ecossistema tecnológico que integra diferentes sistemas de informação para atender as necessidades previstas nas normativas internacionais frente à pandemia. Este artigo descreve, além do Ecossistema e sua estrutura, um conjunto de análises sobre a aplicação desse dispositivo por diversos atores institucionais. O Ecossistema foi a principal ferramenta utilizada para o processo decisório em resposta à
Covid-19, sendo um modelo para a intervenção de saúde digital no Sistema Único de Saúde.
A descoberta da penicilina e das vacinas e o uso da imagem de ressonância magnética evidenciam que a ciência, a pesquisa e a tecnologia ampliaram as fronteiras do conhecimento e os saberes em saúde.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os países devem aproveitar o poder das tecnologias digitais para a implementação de políticas que garantam o acesso e a cobertura universal que reduzam iniquidades em saúde, portanto, promovendo mais sinergia para o alcance de objetivos globais. Ao mesmo tempo, se de um lado o desenvolvimento e os avanços tecnológicos são constantes e irrefreáveis pela sua própria natureza; de outro, eles tensionam os sistemas de saúde na sua missão.
Aproveitando a concepção deste estudo, podemos observar que as tecnologias tanto facilitam para os órgãos públicos de saúde entenderem a demanda da população através da captação de dados e consequentemente sua análise, quanto facilita o trabalho dos gestores em tomar decisões estratégicas para mitigar riscos. O Hospital San Julian desenhou e está estruturando uma captação de dados que integra a SESA, a CAPS e a Central de Leitos para melhor entender a demanda de saúde mental pública do estado do Paraná. Com isso, conseguimos desenvolver uma estrutura de conteúdo que auxilia a população, que ainda não conseguiu atendimento público de saúde mental, ter acesso a dicas e construções técnicas que podem servir como ponte de tratamento até o indivíduo garantir sua assistência através dos órgãos competentes, além de facilitar o processo de produção de projetos incentivados (um mecanismo pelo qual o governo estimula a parceria público-privada para financiamento de projetos que permitem desenvolver atividades com algum tipo de ganho social). Hoje, temos a possibilidade de entender os interesses e a rotina dos indivíduos para melhor integrar o conhecimento durante o cotidiano do cidadão que necessita de serviços de saúde. As instituições que agregam a tecnologia em seu planejamento estratégico, podem antecipar crises e garantir com que problemas sejam resolvidos de maneira mais eficiente.
Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento de pesquisa realizado no estado do Rio Grande do Norte por Valentim, Lima, Cortez et al (2020). Trata-se de uma pesquisa aplicada de natureza transdisciplinar, cujo objeto foi executado por meio de estudos, desenvolvimentos, adequações e aprimoramentos, os quais foram implementados durante a implantação de um Ecossistema tecnológico para o enfrentamento da epidemia de Covid-19. Pela natureza do objeto, das questões norteadoras da investigação e da necessidade de responder à crise sanitária em curso, optou-se pela utilização do método pesquisa-ação. A pesquisa-ação é executada em ciclos de “aprimoramento de práticas” que dependem da sistematização do trabalho em dois campos: “o da prática e o da pesquisa a respeito desta prática”. Neste sentido, o Ecossistema tecnológico foi desenvolvido em quatro fases: planejamento, desenvolvimento, avaliação e monitoramento. As fases foram executadas de forma cíclica e espiralar, ou seja, de modo sequencial, uma após a outra, sempre que um novo ciclo se iniciava. Cada ciclo era executado em uma ou duas semanas, a depender das demandas (sendo muitas vezes mutáveis e imprevisíveis) sempre de acordo com a urgência e nos tempos necessários a cada resposta.
Essa sistematização permitiu com que as soluções passassem por um processo de melhoria contínua e mais flexível às mudanças.
Os dados produzidos sobre a utilização do Ecossistema foram analisados utilizando conceitos dos campos de sistemas e serviços de saúde e de análise de políticas públicas, especialmente a de “formação de agenda governamental”, do modelo teórico de John Kingdon, por contemplar análises sobre os processos de decisão e reconhecimento de determinado tema ou problema como prioritário na agenda pública. Como resultado, a execução técnica e científica do Ecossistema feita pelo LAIS (Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Núcleo Avançado de Inovação Tecnológica (NAVI) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e pelo corpo executivo da Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESAP/RN) e da Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS/Natal) proporcionou maior engajamento, por parte das autoridades do estado, na adesão ao uso das tecnologias, assim como uma ampliação da transparência e do controle social sobre a divulgação dos dados da Covid-19. Nesse sentido, houve uma maior qualificação na informação e mitigação dos efeitos da
infodemia (uma superabundância de informações) que podem girar em torno de estresse e grande elevação do nível de ansiedade, podendo até causar diminuição da imunidade.
Importante observar que a crise sanitária desencadeou uma necessidade para o campo de políticas públicas em lidar com adversidades. No momento em que entendemos o cenário de necessidade e efetividade das ações tomadas para mitigar os riscos, conseguimos compreender como as novas tecnologias podem colaborar na elaboração de planos de contingência. No exemplo explicitado, entendemos que a tecnologia de software que busca eficiência e agilidade nos fluxos de atividades, consequentemente um maior entendimento dentro de um escopo de ação, ajudou a fomentar um ambiente organizacional que comportasse incertezas e imprevistos. O Hospital San Julian usou como base essa estrutura e hoje consegue mapear as necessidades de atendimento para com a saúde mental, e também, abarca uma maior compreensão sobre quais as patologias que mais atingem a população vulnerável e os motivos, por exemplo, que levam o indivíduo à dependência química.
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O "O futuro está para aqueles que se adaptam e utilizam os avanços tecnológicos em benefício do seu negócio."
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Luiz Prendin é comunicólogo e representante do CMDCA pelo Hospital San Julian.