O Hospital Psiquiátrico e seus Paradigmas
Desde os anos 1960 no Brasil, o tratamento psiquiátrico passou por diversas concepções e preconceitos. Um dos exemplos que podemos citar, é sobre procedimentos de eletroconvulsoterapia sendo associada à tortura dentro e fora de hospitais psiquiátricos desde tal época.
“Não é como antigamente, quando uma corrente contínua era ligada à tomada”, afirma Sergio Rigonatti (profissional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo) sobre o procedimento de eletroconvulsoterapia.
Apesar de hoje a técnica surtir efeito frente tipos de depressão profunda, que os remédios já não são suficientemente eficientes (podendo ajudar mais de 10,5 milhões de brasileiros que sofrem do mesmo problema, segundo dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo) ainda existem paradigmas a serem discutidos, tendo como resquício ideias construídas sobre os hospitais psiquiátricos no passado.
Seguindo a ideia sobre o tratamento psiquiátrico e suas áreas de atuação, existe a especialização no tratamento de dependentes químicos. A dependência química na atualidade é um tema amplamente divulgado e discutido, considerando que o uso abusivo de substâncias psicoativas tornou-se um problema social e de saúde pública no contexto em que estamos inseridos. Discorrer sobre dependência química implica em levantar questões relacionadas ao campo da saúde, o que provoca uma reflexão sobre esse fenômeno no âmbito das concepções sobre saúde e doença ao longo da história do homem até os dias atuais.
Segundo Martins & Corrêa (2004) o consumo de drogas sempre existiu ao longo dos tempos, desde as épocas mais antigas (religiões e culturas diferentes com finalidades distintas), tendo como base a busca por maneiras para aumentar o prazer e diminuir o sofrimento do ser.
De acordo com os autores, os hábitos e costumes de cada sociedade é que trilhavam o uso de drogas em cerimônias coletivas, rituais e festas, em que geralmente esse consumo era restrito a pequenos grupos (hoje sendo visto o uso em diversas circunstâncias e por pessoas de diferentes grupos e realidades). Em relação à saúde e à doença, também se pode observar a atenção do indivíduo frente às questões que fazem parte da condição humana, como por exemplo, reflexões sobre a vida e a morte, o prazer e a dor, sofrimento e o alívio, deixando evidente a inerente fragilidade do ser.
A área de saúde tem muito a realizar no que diz respeito ao uso de drogas e à promoção de saúde. Para isso, o contexto atual exige um conjunto de ações específicas que envolvam melhorias tanto no tratamento em si, no caso da dependência já instalada, quanto em termos de promoção e prevenção ao uso de drogas, seguindo o modelo biopsicossocial de saúde (concepção holística do ser humano). Atualmente, diversos tipos de tratamento estão sendo implantados para o trabalho com a dependência química, como por exemplo, o tratamento médico, o comportamental, o psicoterápico, o psiquiátrico ou o da ajuda mútua. Esses tipos de tratamento implicam em intervenções terapêuticas específicas, como: desintoxicação, farmacoterapia, psicoterapias (individual, em grupo e com os familiares) e terapias (ocupacional e cognitivo-comportamental).
Entende-se que a forma de encarar a dependência química e trabalhar com a mesma, sofreu alterações principalmente no final do século XX. Existe uma necessidade de encarar a questão da dependência química como uma realidade diferenciada e que necessita de acompanhamento (distanciando-se de uma questão apenas moral ou de caráter do indivíduo) para mostrar a importância de ações de promoção e de prevenção ao uso de drogas, com a finalidade de reduzir esse fenômeno em nossa realidade.
Percebe-se produções cinematográficas que reforçam uma ideia estigmatizada sobre o tratamento psiquiátrico, por outro lado, também podem se posicionar de maneira conscientizada. Um filme clássico como Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest, 1975) evidencia a imagem de um hospital psiquiátrico “destruidor de almas”, onde a personagem RP McMurphy (interpretado pelo ator Jack Nicholson) finge insanidade para escapar da prisão convencional. Existe uma dramática representação do tratamento do paciente, tendo sequências brutais de terapias de choque elétrico. Em 2011, o jornal britânico Telegraph afirmou que a produção foi responsável por “destruir a imagem da terapia eletroconvulsiva” e também iniciar o “desenvolvimento de drogas antipsicóticas mais eficientes que permitiam aos pacientes viverem vidas normais”. Apesar de tais críticas, o filme em seu contexto histórico pode (à sua maneira) apresentar uma denúncia a como os “loucos” foram tratados ao longo da história, “um grito de guerra no local dos eternos esquecidos”, um despertar à liberdade de todos os indivíduos.
Outros exemplos de filmes de terror que dominaram as representações de “loucura” são: Psicose, de Hitchcock (1960), Michael Myers (Halloween), Jason Voorhees (Sexta Feira 13), Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo). O "louco'' é personificado como mau, e geralmente mascarado ou desfigurado para aumentar o choque.
Foto de "Um Estranho no Ninho", o filme
Pensando sobre as características da promoção da saúde, o Hospital San Julian desenvolve estratégias que visam a transformação das situações de desigualdade, além de instrumentalizar o indivíduo com informações, tendo como objetivo, levá-lo a se sentir importante dentro do contexto em que vive, dando condições e capacitando-o para que ele tenha uma vida saudável.
A família possui um papel fundamental para o indivíduo ter melhores condições de discernir aspectos relacionados à questão da droga (considerando sua importância no processo de desenvolvimento de seus membros), podendo assim, evitar seu uso. De acordo com Carranza & Pedrão (2005) é por meio da família que a criança vai aprender condutas, hábitos, valores, observando as atitudes dos pais frente à vida e aos problemas inerentes ao cotidiano. A habilidade para lidar com situações de pressão, medo e perda de rotina não depende exclusivamente da família, porém a mesma possui um papel preventivo relevante. Evidencia-se que é necessário considerar e buscar entender qual o significado da dependência química na vida de cada indivíduo, pois vivemos uma realidade em que as histórias de vida são diferenciadas e que cada ser humano possui formas específicas de representar o processo de saúde e doença.
___________________________