O Ambulatório de Saúde Mental como Serviço de Tratamento
Já discorremos em texto anterior sobre o atendimento em nosso ambulatório (acesse:
Hospital San Julian no Atendimento frente o Alzheimer), tendo como foco o tipo de serviço prestado frente à doença do Alzheimer. Para além das especificidades dos campos de atuação do Hospital San Julian, o ambulatório participou e participa da reforma psiquiátrica no Brasil como serviço de tratamento. Para entendermos melhor esse panorama, destacamos alguns pontos importantes sobre o surgimento do ambulatório nos hospitais psiquiátricos.
O ambulatório de psiquiatria foi criado como uma segunda opção de tratamento, mas com os mesmos princípios manicomiais (Santos, 2007). A Reforma Psiquiátrica tem como objetivo a retirada do hospital do centro da assistência, promovendo outros serviços que trabalhem de maneira distinta (superar o modelo hospitalocêntrico e sintomatológico). Esse modelo a ser superado ocupa-se a uma assistência centrada na exclusão e no silenciamento da loucura, reduz sua prática ao controle dos sintomas e à sua eliminação por intermédio dos fármacos.
Segundo Santos (2007) o ambulatório, em sua origem, concentrou seus esforços em consultas psiquiátricas e no direcionamento para internações (em caso de não conseguir-se calar os sintomas). O Hospital San Julian sustenta o ambulatório de saúde mental como ponto de atenção, porém não significa preservar a prática citada anteriormente, pelo contrário, o objetivo é manter o serviço e transformar a clínica tradicionalmente concebida em uma clínica orientada pelos preceitos da Reforma Psiquiátrica.
Foi na década de 1980 que começou a surgir uma nova proposta de cuidado no campo da saúde mental, que é a reivindicação dos direitos daqueles que são vistos como doentes mentais (Tenório, 2002). Para o autor, evidenciar que a cidadania tem um papel fundamental para a organização do campo da saúde mental é essencial, pois contempla o campo social, cultural, político, educacional, jurídico, entre outros. Essa “clínica ampliada” que abarca tantos aspectos fora da clínica tradicionalmente concebida, foi essencial para o caso de Maurício, nosso “voluntário de nove mil dias”. De acordo com nosso ex-paciente da década de 1990, o Hospital foi primordial para sua reinserção social, pois foi aqui que ele observou os valores intrínsecos e necessários para viver em comunidade. Segundo o texto dos PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.09) o objetivo desde o ensino fundamental deve ser capacitar os alunos para:
“...compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito.”
Nessa perspectiva, o Hospital retoma valores fundamentais de ensino básico para reinserir o indivíduo a partir de uma base de convivência mútua. O intuito é direcionar o paciente para uma construção de base, para que o mesmo consiga observar oportunidades de crescimento em seu cotidiano construindo uma autonomia longe das drogas. Essa ampliação da rede de cuidados é importante pois o sujeito que recebe a assistência é inserido em um contexto cultural e socioeconômico, assimilado como alguém além do corpo biológico.
Apesar do ambulatório ter surgido como um serviço de assistência à loucura, a demanda atualmente é variada, fazendo com que as instituições recebam pacientes de várias idades e com sofrimentos psíquicos diversos. Como exemplo, o Hospital San Julian atende adultos e jovens do sexo masculino e feminino, contemplando suas unidades de internamento para o masculino e ambulatório para ambos os públicos. O caminho a ser seguido para tratamento pauta-se mediante quatro fases: avaliação, participação, reintegração e preparo para alta. A
avaliação é o momento em que o paciente está em observação constante, estabelece-se a relação com o outro, apresentando assim, melhora no controle dos possíveis impulsos agressivos. A
participação é o momento em que o paciente está sendo inserido nos grupos e atividades iniciando sua integração. A
reintegração é o momento em que o paciente deverá participar ativamente das comissões terapêuticas, envolvendo a responsabilidade nas atividades assumidas e a reintegração social. O
preparo para alta é o momento em que o paciente apresenta-se estável em relação ao comportamento e inicia a preparação para alta recebendo orientações quanto a continuidade do tratamento pós hospitalar.
A equipe é o principal instrumento de intervenção e de produção de cuidados na lógica da atenção psicossocial. Torna-se essencial que o trabalho em equipe multidisciplinar fortaleça a assistência, e distancia-se de trabalhos individuais em conjunto. Segundo Costa-Rosa (2000) na lógica ambulatorial, mesmo com a existência de uma equipe multiprofissional, as atividades e o sujeito são desmembradas, direcionando um modo de trabalho similar aos de linhas de montagem. Isso quer dizer, que cada profissional pode deixar-se afetar pelas outras disciplinas, com o objetivo de potencializar o tratamento. Em nosso Hospital contamos com uma plano multidisciplinar para o atendimento ambulatorial junto dos pacientes, com profissionais da área de assistência social e psicologia, sendo um trabalho de integração para melhor atender as necessidades do indivíduo.
Nesse paradigma, o objetivo não é a cura tendo como compreensão uma ausência de sintomas somente, mas ter em mente a busca por uma vida melhor para o paciente de acordo com a sua condição psíquica. É essa a importância da presença de outras fontes além da medicação para tratamento (psicoterapias individuais e grupais, oficinas e outros instrumentos de reintegração sociocultural) possibilitando assim, várias possibilidades aos pacientes de estabelecer vínculos e se reinserir da melhor maneira possível dentro da sociedade.
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