Antirracismo e a Psicologia
O
mito da Democracia Racial, ao contrário do que propõe seu conceito, é a afirmação de que existe racismo no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os negros representam 75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres do país. Também de acordo com o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, em 2018, a taxa de analfabetismo entre a população negra era de 9,1%, enquanto os percentuais da população branca eram de 3,9%. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), também do IBGE, o percentual de jovens negros fora da escola era de 19%, enquanto de jovens brancos era de 12,5%.
De acordo com os dados mostrados, é evidente que não existe democracia racial no Brasil, e que o mesmo só será possível quando o negro não sofrer nenhum tipo de discriminação, preconceito, estigmatização e segregação, seja em termos de classe ou em termos de raça. Discursos como a “democracia racial” somente confundem e reduz em o grupo oprimido, impedindo com o que o mesmo se organize para defender seus direitos.
A
ação afirmativa ou
ação compensatória é um conjunto de instrumentos que tem como objetivo promover a igualdade de oportunidades para a população negra (distanciando-se de ações que remediam a discriminação, assim como o
mito da democracia racial exemplificada anteriormente). Por meio de tal ação, além de promover igualdade de oportunidades no emprego, educação, no acesso à moradia e no meio dos negócios, o Estado, a Universidade e as empresas se obrigam a prevenir discriminações futuras, para dessa forma construir uma sociedade inclusiva. Segundo o discurso de Abdias Nascimento (1990) os propósitos específicos da
ação compensatória são: 1) aumentar a participação de pessoas qualificadas, pertencentes a segmentos historicamente discriminados, em todos os níveis e áreas do mercado de trabalho; 2) ampliar as oportunidades educacionais, particularmente no que se refere à educação superior; 3) garantir oportunidades de estabelecer contratos com o governo, em âmbito federal, estadual ou municipal, dos quais de outro modo a população negra estaria excluída.
Entendendo a condição dos negros no Brasil, analisemos seu espaço no campo da psicologia, em que no atual momento de pandemia torna-se cada vez mais evidente a necessidade de existir políticas públicas de saúde com o viés para garantir a saúde mental entre a população. A psicologia tem a oportunidade de continuar se desenvolvendo e atender às necessidades de uma população em constante mudança (iniciando seus trabalhos em combater os efeitos invasivos e prejudiciais do racismo). Buscar o antirracismo na psicologia requer uma observação de como a disciplina estrutura as oportunidades de maneiras que sustentam a supremacia branca. Em resumo, vamos levantar algumas questões como: quem ou o que está sendo estudado e quem está sendo atendido? Quem está sendo recrutado, treinado e promovido? Qual é a pesquisa que está sendo financiada, publicada e citada? Como os psicólogos estão combatendo o racismo, desafiando as normas de pesquisa e construindo pontes como mentores e aliados?
"Segundo a American Psychological Association (2021) a maioria das amostras de padronização em pesquisa psicológica é composta por indivíduos de sociedades ocidentais, educadas, industrializadas, ricas e democráticas, o que por sua vez pode alterar generalizações sobre o comportamento humano."
Segundo Buchanan, N., et al., “Upending Racism in Psychological Science” as pesquisas sobre negros, indígenas e outras pessoas de cor (BIPOC) são mais difíceis, e em diversos momentos, cobra-se uma publicação com um grupo de comparação de brancos. Tornar o campo mais sensível às necessidades de uma nação em rápida diversificação é uma preocupação urgente.
Nós do Hospital San Julian, somos um Hospital Psiquiátrico 100% SUS que atende pacientes dependentes químicos e portadores de doenças mentais nas fases mais críticas e agudas de suas doenças, com um campo de atuação que contempla todo o estado do Paraná. Vamos considerar os dados apresentados, em que 75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres do país são negros (IBGE), sendo assim, os negros são a população que mais carece de políticas públicas de saúde e inserção social, tornando-se maioria dentro da linha de atendimento de um Hospital 100% SUS. Temos espaço de fala para afirmar que dentro de nossa amostra de padronização e pesquisa frente os casos de diversas patologias que atendemos, estamos desenvolvendo um plano terapêutico que abraça a diversidade.
Entender que a ciência é a busca da verdade, e que no momento em que a verdade só é contemplada e contada por fragmentos da história (não compreendendo a importância de estudar e tratar cada comunidade como sendo distinta e diversa) não saberemos a verdade total sobre os problemas que a comunidade sofre (seja sobre os motivos do indivíduo estar em situação de vulnerabilidade e dependência química, isolado de um futuro digno e igualitário ou as possibilidades de implementar um tratamento continuado com esse paciente) a área da psicologia continuará se distanciando do antirracismo em sua área de atuação.
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Você, empresa ou profissional, como tem atuado para promover o antirracismo em sua área de atuação?
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