Efeitos do consumo de drogas parental para o desenvolvimento e saúde mental das crianças
A infância é permeada durante seu desenvolvimento por inúmeras condicionantes, considerando tanto fatores genéticos quanto orgânicos, com características individuais do ser humano em formação ou fatores mais amplos (influências ambientais, culturais e sociais) que podem se manifestar, por exemplo, a partir da família, escola ou sociedade.
Segundo Campelo, Santos, Angelo
et al (2018) as crianças e adolescentes com déficit no desenvolvimento podem ter sérios problemas em seu desempenho funcional e em sua saúde mental. Essa questão pode ir desde a diminuição da capacidade de realizar atividades do dia a dia de maneira satisfatória, até tornarem-se alvos de ações de bullying, violência, preconceito, entre outros. Quando os autores mencionam que a criança pode se tornar alvo de violência por alguma dificuldade em suas tarefas diárias, não quer dizer que a falta de saúde mental ou desempenho funcional justifique a violência contra a criança. A pesquisa evidencia que a falta de capacidade em fazer parte do que é considerado adequado ou necessário socialmente, pode abrir espaço para estranhamentos e consequentemente, espaços para alguma atitude violenta frente a criança.
Deste modo, as características parentais, assim como os fatores ambientais, podem ser fatores de risco como de proteção para o desenvolvimento e saúde mental das crianças. São considerados fatores de proteção as condições que fortalecem, enfrentam, crescem e desenvolvem o ser em sua formação. Os fatores de risco são variáveis no que diz respeito ao bem-estar, saúde ou no desempenho social do indivíduo, o que pode ocasionar resultados negativos ao seu desenvolvimento.
Segundo os pesquisadores, dentre os fatores de risco que têm influência direta no desenvolvimento e saúde mental das crianças, está o uso de drogas pelos pais (exposição ao álcool, por exemplo). Em muitos casos, tal uso exacerbado é um marcador substancial para a disfunção familiar levando a resultados previsivelmente negativos para as crianças. Além disso, somando a gestações desfavoráveis e vindas de uma situação socioeconômica adversa, as crianças são expostas a vários riscos e a uma maior tendência a atrasos no seu desenvolvimento neuropsicomotor.
O estudo também tem apontado que o uso de substâncias psicoativas por mulheres grávidas possui relação a prejuízos nas funções cognitivas das crianças, provocando dificuldades na manutenção da atenção e prejuízos na memória e no aprendizado (com maior influência cognitiva em crianças de até dois anos).
Podemos observar que o desenvolvimento de um ser humano é um processo complexo que envolve interações recíprocas entre a cognição, emoção, fisiologia, percepção do mundo e neurobiologia. O reconhecimento desse processo é primordial para nortear pesquisas na perspectiva da ciência do desenvolvimento e a influência do contexto em meio a essa formação humana (ambiente físico, social e cultural do indivíduo).
Tomando como ponto de partida o olhar através dessa lente, é possível perceber que os efeitos do consumo de drogas dentro da família em meio ao desenvolvimento e saúde mental da criança, tem origem em fatores múltiplos, anteriores à sua concepção, como o ambiente e estilo de vida adotado por seus progenitores. Assim, a avaliação do risco quando a gestação é exposta a drogas é difícil, entendendo que os resultados podem ser confundidos pelo consumo de outros tóxicos em simultâneo ou pela presença de dificuldades financeiras.
De acordo com Campelo, Santos, Angelo
et al (2018):
…”embora o consumo parental de drogas tenha exercido seu papel como um importante fator de risco para o desenvolvimento e saúde mental das crianças nos estudos apresentados, ele não pode sozinho ser considerado um determinante unânime dos problemas evidenciados, visto que o desenvolvimento humano é fruto de um processo que envolve fatores como as características pessoais, ambientais e sociais de um indivíduo.”
O que podemos tirar como exemplo desse estudo, é que tanto as crianças como seus progenitores podem estar desenvolvendo problemas de saúde mental ou um possível prejuízo nas funções cognitivas por inúmeras influências, o que não prescreve uma escolha individual por desenvolver algum tipo de dependência química ou isolamento social. É importante construir uma conscientização social sobre esse tipo de necessidade pública, pois o indivíduo por si só, não desenvolve conflitos internos e dependências químicas. Devemos refinar nossos olhares e entender os canais de influência para podermos abarcar o máximo de pessoas no campo da saúde e bem-estar, seja em um âmbito individual, familiar ou comunitário.