Mas o motivo do louvor são as razões do HotBlack para o blackout eletrônico. Como explicou seu presidente, Jimson Bienenstock, seu objetivo é fazer com que os clientes falem uns com os outros ao invés de ficarem enterrados em seus dispositivos portáteis.
“Trata-se de criar uma atmosfera social. Somos um veículo para a interação humana, se não vira apenas uma mercadoria”, disse ele a um repórter do New York Times.
Que ideia nova! Talvez Bienenstock saiba instintivamente o que a ciência médica vem demonstrando cada vez mais há décadas: a interação social traz uma contribuição muito importante para a saúde e a longevidade.
Pessoalmente, não preciso de evidências baseadas em pesquisas para apreciar o valor de fazer e manter conexões sociais. Eu experimento isso diariamente durante minha caminhada matinal com até três mulheres e no vestiário antes e depois de nadar na ACM onde o uso de equipamentos eletrônicos não é permitido.
A experiência no vestiário tem sido surpreendentemente gratificante. Fiz novas amigas com quem posso compartilhar alegrias e tristezas. As mulheres me ajudam a resolver problemas grandes e pequenos, oferecendo conselhos, assistência e avisos seguros e frequentemente risadas saudáveis que iluminam meu dia.
E, vários estudos já provaram, elas também podem estar ajudando a salvar minha vida.
Como relatou o Harvard Women’s Health Watch: “Dezenas de estudos mostram que pessoas com relacionamentos satisfatórios com a família, os amigos e a comunidade são mais felizes, têm menos problemas de saúde e vivem mais tempo”.
Em uma pesquisa com sete mil homens e mulheres de Alameda County, na Califórnia, que começou em 1965, Lisa F. Berkman e S. Leonard Syme descobriram que “pessoas que estavam desconectadas das outras tiveram cerca de três vezes mais possibilidade de morrer durante o estudo de nove anos do que aquelas com fortes conexões sociais”, segundo recontou John Robbins em seu maravilhoso livro sobre a saúde e longevidade, “Health at 100” (Saúde aos 100).
Essa diferença importante em sobrevivência acontecia independentemente da idade, sexo, práticas saudáveis ou status de saúde física das pessoas. Na verdade, os pesquisadores descobriram que “aqueles com laços sociais profundos e hábitos de vida pouco saudáveis (como fumo, obesidade e falta de exercícios) na verdade viviam mais do que as pessoas com ligações sociais pobres, mas estilos mais saudáveis”, escreveu Robbins. No entanto, ele afirmou rapidamente: “Não é preciso dizer que as pessoas que tinham tanto um estilo de vida saudável quanto relações sociais próximas viviam mais do que todos”.
Em outro estudo, publicado no The New England Journal of Medicine em 1984, pesquisadores do Health Insurance Plan of Greater New York descobriram que entre 2.320 homens que sobreviveram a um ataque cardíaco, aqueles com conexões mais fortes com outras pessoas tiveram apenas um quarto do risco de morrer dentro de três anos do que aqueles que não mantinham laços sociais.
Pesquisadores do Centro Médico da Universidade Duke também descobriram que relacionamentos podem reduzir as mortes entre as pessoas com sérios problemas médicos. Beverly H. Brummett e colegas relataram em 2001 que, em adultos com doença arterial coronariana, a taxa de mortalidade era 2,4 vezes mais alta nos socialmente isolados.
Em uma coluna de 2013 chamada “Shaking Off Loneliness” (Livrando-se da Solidão), citei a revisão de uma pesquisa publicada em 1988 que indicava que “o isolamento social está junto com pressão alta, obesidade, falta de exercício ou fumo como fator de risco para doenças e morte precoce”.
As pessoas com carência crônica de contatos sociais são mais propensas a ter níveis elevados de estresse e inflamações. Esses problemas, por sua vez, podem prejudicar o bem-estar de quase todo sistema corporal, incluindo o cérebro.
Com a falta de interações sociais, o fluxo sanguíneo para órgãos vitais corre o risco de ser reduzido e prejudicar as funções imunológicas. Mesmo a maneira como os genes se expressam pode ser afetada negativamente, diminuindo a capacidade do corpo de combater inflamações. As inflamações crônicas estão ligadas a doenças cardíacas, artrite, diabetes tipo 2 e mesmo tentativas e suicídio.
Em um relatório de 2010 no The Journal of Health and Social Behavior, Debra Umberson e Jennifer Karas Montez, pesquisadoras de Sociologia da Universidade do Texas, em Austin, citaram “evidências consistentes e convincentes que ligam a baixa quantidade ou qualidade de laços sociais a uma série de problemas”, incluindo o desenvolvimento e a piora das doenças cardiovasculares, ataques cardíacos em série, desordens autoimunes, pressão alta, câncer e dificuldades de cicatrização.
A falta de interação social também prejudica a saúde mental. O apoio emocional fornecido pelas conexões sociais ajuda a reduzir os efeitos danosos do estresse e tem o poder de promover uma “sensação de sentido e propósito na vida”, escreveram as pesquisadoras do Texas.
Emma Seppala, do Centro de Pesquisas e Educação sobre Compaixão e Altruísmo de Stanford, e autora do livro “The Happiness Track” (O caminho da felicidade), de 2016, escreveu: “As pessoas que sentem maior conexão com outras têm níveis menores de ansiedade e depressão”. Além disso, estudos mostram que elas também possuem autoestima elevada, maior empatia pelos outros, são mais confiáveis e cooperativas e, como consequência, os outros também se sentem mais abertos para confiar e cooperar com elas.
“Em outras palavras, conectividade gera um ciclo de retorno positivo de bem estar social, emocional e físico”, explicou Seppala.
Ela sugere que um declínio nas conexões sociais na sociedade é capaz de ajudar a explicar o recente aumento em relatos de retraimento, isolamento e alienação, e pode ser o motivo por que a solidão se tornou a principal razão das pessoas procurarem aconselhamento psicológico. Ela escreveu em 2004 que pesquisas sociológicas revelaram que mais de 25 por cento dos americanos não tinham em quem confiar e não possuíam uma pessoa próxima com quem se sentissem confortáveis compartilhando um problema pessoal.
Para quem está em busca de um estilo de vida saudável, não basta focar em comer vegetais e fazer exercícios regularmente. Seppala adverte: “Não se esqueça de se conectar com os outros”.