Ter uma Infância Difícil Facilita para que Problemas de Saúde Física e Mental Apareçam na Fase Adulta
Algumas pesquisas mostram que eventos negativos da infância - como abuso ou negligência - podem ter um impacto prejudicial na saúde física e mental de uma pessoa a longo prazo. Da mesma maneira, o estresse sofrido na infância também pode influenciar nossos genes e ser a dinâmica do relacionamento familiar, e o sofrimento pode ser transmitido aos filhos. Ou seja, o ciclo de problemas psicológicos (a menos que seja quebrado) pode continuar de geração em geração.
No momento em que se fala sobre adversidades na infância, podemos abranger experiências específicas, como negligência, abuso ou trauma. Também pode contemplar condições socioeconômicas desfavoráveis, como pobreza, baixa escolaridade ou desemprego. Para Santini, Perry, Marmot
et al (2021) em pesquisa publicada no site
The Conversation foram investigados dois tipos de adversidade: o impacto de conflitos graves em casa (tensão, discussões ou violência física) e as graves dificuldades financeiras experimentadas durante a infância. Foi evidenciado que por conta desses dois tipos de adversidades, previram significativamente vários problemas de saúde na idade adulta (físicos, mentais e sociais). O impacto foi agravado se as pessoas experimentaram conflitos e dificuldades financeiras na infância.
Experimentar uma severa pressão financeira na infância pode significar um estresse crônico e incontrolável. Famílias que sofrem de graves dificuldades financeiras podem transmitir um sofrimento crônico à criança. Tal padrão de estresse no corpo de uma criança emocional pode se tornar um obstáculo para a evolução física saudável e o aprendizado eficaz mais tarde, ao amadurecimento cerebral e desenvolvimento cognitivo. A dificuldade financeira pode significar que a criança não terá as necessidades básicas, como comida, roupas e livros escolares (maior probabilidade dessas crianças terem se desenvolvido em bairros carentes e inseguros). Segundo a pesquisa, este nível de estresse pode inibir a capacidade de uma pessoa de tomar decisões e pode afetar diretamente os sistemas biológicos e fisiológicos que são importantes para se manter saudável na idade adulta (essas mudanças podem persistir mesmo se uma pessoa escapar da desvantagem mais tarde).
Crescer em um ambiente caracterizado por conflitos graves também pode ter um efeito considerável no desenvolvimento psicológico e neurológico. Um dos motivos é que um padrão de estresse imprevisível, incontrolável e crônico cria um sistema de resposta ao estresse hiperativo que prontamente atua em estado de alerta ou agressão pelo indivíduo (no geral limita a capacidade de uma pessoa de regular as emoções e o comportamento). Essas experiências predispõem as pessoas a estilos de vida pouco saudáveis, como o uso indevido de substâncias. Também tem efeito negativo frente ao sistema imunológico, metabólico e nervoso autônomo (o que significa que tem efeito direto na capacidade de uma pessoa se manter saudável).
Os pesquisadores afirmam que as pessoas que tiveram infâncias difíceis são mais propensas a beber excessivamente, fumar, ter uma dieta pobre e tendem a ser menos ativas (comportamentos sedentários). Os resultados mostram maior risco de depressão, infelicidade, insatisfação com a vida, solidão e sensação de insegurança em sua área local. Todos esses problemas sociais e de saúde tendem a se acumular e se intensificar ao longo do tempo, reduzindo a qualidade de vida das pessoas, ao mesmo tempo que desenvolve a necessidade de cuidados múltiplos, complexos e caros. Na pesquisa mostra que 25% dos entrevistados passaram por dificuldades financeiras ou conflitos durante a infância (um em cada quatro adultos na Europa pode estar em maior risco de desenvolver problemas de saúde por conta dessas adversidades).
Podemos pensar que se o investimento público estivesse em combater as adversidades da infância, acabaria por economizar em custos de tais tratamentos psicológicos para as comorbidades desenvolvidas frente aos conflitos familiares e dificuldades financeiras. Parte da solução precisa envolver o trabalho com crianças e famílias afetadas por essas adversidades (comunidades carentes). É necessário haver mais consciência e compreensão sobre os efeitos prejudiciais do conflito e da tensão financeira no lar (para a saúde mental de crianças e que posteriormente as acompanha em traumas na fase adulta).
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